Aqui trazemos alguns relatos dos visitantes da Rota dos Quilombos!
Desde 2016 conseguimos operacionalizar vivências para vários perfis de pessoas com interesses bem diversos e vamos contar como foi algumas delas. Foram roteiros personalizados para as curiosidades dos turistas, mas sempre atendendo à disponibilidade das comunidades e o que elas desejaram compartilhar de experiências.
Virada do Ano Novo e Folia de Reis
Em dezembro de 2016, um casal do Rio de Janeiro assistiu a um vídeo na internet e ficaram sabendo de nossos projetos. Eles tinham o desejo de conhecer o Vale do Jequitinhonha, mas nunca imaginaram que Comunidades Quilombolas organizavam passeios e turismo de vivência e experiência em seus territórios. Primeiro ficaram impressionados com a quantidade de manifestações culturais apresentadas e depois viram que a Rota dos Quilombos poderia ser alinhada a uma visita ao Lago de Irapé.
O casal foi de carro próprio e passaram por Botumirim e Grão Mogol, seguiram para Leme do Prado, atravessaram de balsa o Rio Jequitinhonha com o veículo e continuaram até Chapada do Norte. Como haviam feito contato antecipado pudemos combinar de passarem a noite de Reveillon em uma comunidade que tradicionalmente se reúne, faz brincadeiras de roda e celebram juntos. Foi realmente uma festa! No dia seguinte tomaram café da manhã com quitandas e passaram um dia tranquilo conhecendo as belezas rurais.
Foi uma surpresa tanto para os turistas o fato do Vale do Jequitinhonha ser tão rico culturalmente e ter uma mesa farta de comidas típicas, simples e saborosas, com alimentos livres de agrotóxicos produzidos pelos quilombolas, como também foi surpreendente quando o casal abriu o porta malas e doou 70 kits de brinquedos para as crianças e adolescentes. Teve presente até para a comunidade vizinha e um gostinho de saudades ficou durante sua partida.
Este mesmo casal teve a sorte grande de serem recebidos pelo Mestre da Folia de Reis do Distrito de Santa Rita do Araçuaí, ainda em Chapada do Norte e depois de uma noite inteira de cantoria puderam descansar em um dos receptivos familiares locais e receber em casa cedinho um café da manhã caseiro com direito a água de côco produzido às margens do rio Araçuaí!
Seguiram viagem até a sede de Chapada do Norte e tiveram a honra de serem recepcionados pelo integrante mais antigo da Irmandade do Rosário que apresentou a Igreja tombada e um bate papo sobre a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, registrada como patrimônio imaterial de Minas Gerais desde 2013. Para fechar com chave de ouro puderam conhecer outra comunidade quilombola do município de Minas Novas, almoçando um frango caipira e pratos a base de mandiocas da região e conhecendo outras modas e versos. Pernoitaram novamente em receptivos familiares e seguiram viagem rumo a Diamantina na manhã seguinte, passando antes para conhecerem a associação das artesãs de Coqueiro Campo (Divisa de Minas Novas com Turmalina).
Festas de Santos Padroeiros
O ano começa chuvoso no Médio Jequitinhonha! E damos graças aos Céus, a Deus e a todos os Santos e Santas por isso! Chuva no semiárido é quase um milagre! Haja reza, promessa e penitência! Além de irrigar as plantações, encher as barraginhas, são as águas de novembro a janeiro que abastecem as cisternas de captação de água de chuva que são utilizadas até o fim de ano, nas próximas chuvas.
E junto com as chuvas o ano também começa com as Festas dos Santos Padroeiros. Depois da Folia de Reis, um dos Santos mais comemorados em janeiro é São Sebastião! Mas não se engane! Cada comunidade tem uma Santa ou um Santo Padroeiro e, mesmo que no resto do mundo católico a data de tais Santas e Santos seja a mesma, no Médio Jequitinhonha a Festa pode se adaptar à chegada dos migrantes.
Por isso, com sol ou com chuva, alguns visitantes já conseguiram acompanhar as Festas de Padroeiros nas comunidades quilombolas. Muda a imagem, as cores da bandeira, as orações e os enfeites nas igrejas. Mas a tradição é bem parecida. União antes, durante e depois para poder juntar os ingredientes das comidas, licores e doces. Bastante quitanda com café pra receber as congadas. O terço é cantado e a mesa de leilão é seguida de forró. E tem de ter a giranda (fogos de artifício) no levantamento do mastro.
Em 2016 vieram até uma dupla de fotógrafos de Florianópolis para vivenciar e fazer registros em Berilo para um livro! Ficaram 3 dias de novena e o cortejo dos rei e rainha. Estes tiveram a bênção de serem recepcionados pelo Capitão do Congado Alê do Rosário, que Deus o tenha, era o Rei da Festa daquele ano. Nosso Mestre e amigo in memorian, e que sempre será lembrado. Pra você ver que cada ida ao Jequitinhonha é diferente da outra, visto que as riquezas são as pessoas e sua cultura. Tudo passa, de menos a tradição…
Eventos e Festivais de Cultura
Não bastante as Congadas e Folias de Reis colorirem com as saias rodadas e floridas seguindo suas bandeiras e encantarem as estradas de terra vermelha ao som das sanfonas, caixas e do triângulo nas festas religiosas, as regiões do Alto e Médio Jequitinhonha são ricas em outras manifestações culturais: Batuques, Bandas de Taquara, Marujadas, Maculelês, Danças de Roda e Danças do Nove. Também existe uma tradição das Bandas Filarmônicas na região.
Muitos eventos são realizados ao longo do ano em cada município. Aniversários das cidades, encontro de congadeiros e artesãos, apresentações em datas cívicas, eventos e feiras organizados por Gestores Culturais, Prefeituras e ONGs.
Existe um calendário fixo, mas também um móvel destes eventos. Em 2017, a Nzinga Turismo foi uma das apoiadoras do Encontro de Congadeiros e do Encontro dos Artesãos de Berilo. Em contato com a Jornalista e repórter Marcela Martins, correspondente da Rede Minas de Televisão, demos suporte para a gravação das 5 vídeo-reportagens sobre o Médio Jequitinhonha e a cobertura do evento foi realizada com lindas cenas. A repórter encantou-se com a cultura local e deu relatos de riqueza de experiência pessoal no encontro com sua ancestralidade.
Outros eventos correlatos que ocorrem por meio de amigos do Vale são: Encontro de flautas, Encontro de Comunicadores, Festivale, Mês da Consciência Negra das Escolas e Municípios, Desfiles de 7 de setembro, Feiras Livres e Feiras de Artesanatos. Sempre nestes eventos a presença de show dos artistas locais, principalmente cantores e bandas pela herança musical histórica de Minas Novas e região. Também os Festivais Gastronômicos de Minas Novas têm atraído visitantes de ficam na sede para os eventos a noite, mas passeiam pelas comunidades durante o dia conhecendo os caminhos do cerrado, a ancestralidade quilombola e os temperos rurais da região.